Monday, January 17, 2011

Gostar de aprender


Existe uma confusão sobre como a escola deve ensinar. À partida, todos concordarão que a escola deve cultivar o gosto por aprender. Por causa disso, há quem coloque esta ideia de pernas para o ar, dizendo que a aprendizagem deve ser sempre feita com gosto. No entanto, tal não é verdade.

Como é evidente, os professores devem incentivar os alunos a gostar daquilo que estão a aprender, mostrando a beleza e a importância do conhecimento. Tal pode ser feito de variadas formas, dependendo da pedagogia de cada professor. Contudo, a escola estará a mentir aos alunos se lhes transmitir que se pode aprender sempre num ambiente de brincadeira, de jogo, de descontracção e de alegria.

Isto já não tem que ver com pedagogia, mas é simplesmente a realidade: aprender exige muitas vezes esforço, sacrifício e dedicação, o que, por muito que a pessoa goste daquilo que faz, se torna frequentemente cansativo, stressante e chato. Mesmo que alguns jogos possam ser úteis para fomentar o gosto por aprender, eles não podem ser o centro do ensino: por exemplo, o xadrez é excelente para desenvolver o raciocínio, mas ninguém aprende matemática ou filosofia a jogar xadrez.

Sobre este tema, Savater diz o seguinte, no seu livro O Valor de Educar:
(...) a maior parte das coisas que a escola deve ensinar não pode ser aprendida por meio de jogos. (...) "jogar é experimentar o acaso"; a educação, em contrapartida, orienta-se para um fim previsto e deliberado, por mais aberto que seja. A própria ideia de ir à escola para fazer jogos é disparatada: para jogar, as crianças chegam e sobram por si sós, de modo que, se é disso que se trata, o mais aconselhável será deixá-las em paz (...). Precisamente, a primeira coisa que aprendemos na escola é que não podemos passar o tempo todo a jogar. O jogo e aquilo que vem com o jogo, podemos aprendê-lo sozinhos ou com a ajuda de qualquer amigalhaço: mas vamos à escola para aprender o que não nos ensinam noutros sítios. (...) o propósito do ensino escolar é preparar as crianças para a vida adulta, e não confirmá-las em regozijos infantis. E os adultos não se limitam a jogar, mas, sobretudo esforçam-se e trabalham. São tarefas que a princípio custam, mas que nem sempre são desagradáveis. (...) A escola é o lugar onde se aprende que nem só jogando se mostra amor à vida (...).